sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ladrões de Guarda-chuva

(6 de junho de 2012)
Ao meu guarda-chuva da Família Addams in memorian

     Eles não assaltam bancos, não carregam armas, não se parecem com os maus senhores de Copolla. Pelo contrário, fingem-se de normais, andando em meio à multidão diariamente. Trabalham em academias, escritórios, colégios; usam roupas normais. Ninguém desconfia deles.
Todavia, eles estão entre nós. E, quando menos esperamos, roubam nosso guarda-chuva. É simples: damos bobeira e deixamo-lo em cima do balcão, do sofá, no banheiro ou num cantinho da parede. Aí é batata, quando voltamos, desapareceu.
     Perguntamos aos balconistas, que nos encaminham à moça da cantina, que, por sua vez, nos aconselha a perguntar ao porteiro. Este dá aquele risinho e começa a lhe contar histórias longas e assustadoras de roubos de guarda-chuva. Percebemos, inclusive, que se faz mito esse sumiço. Alguns chegam a creditar o fato a alienígenas, fantasmas, sacis...
     O ladrão, no entanto, é de carne e osso. Nos cumprimenta, oferece biscoito, segura o elevador para nós. Seria um completo cavalheiro se não fosse o cruel fato de ser um psicopata da chuva. É uma patologia. Nasce-se assim. Ladrão. Chego a imaginar que é incontrolável, o sujeito sente calafrios ao ver o tal objeto. Delira ao imaginá-lo em sua coleção.
     Em sua casa, deve haver um cômodo escondido lotado de guarda-chuvas de todas as cores e modelos. Uma estante de livros deslocada nos levaria a tal local. Porém, jamais o veremos. Os ladrões são maquiavelicamente estrategistas. Morrem com o segredo e nunca, mas nunca se submetem a qualquer chuvisco de fraqueza.    

Um comentário:

  1. "Perguntamos aos balconistas, que nos encaminham à moça da cantina, que, por sua vez, nos aconselha a perguntar ao porteiro."

    Lembrou-me um perdido. Fui de fulado em fulano. Até a chefe da segurança que abraçou a causa e foi percorrendo o angar comigo. A passo rápido. Chamando os pelos nomes. Imagino. A corredores de distância. Chamava-os, eles olhavam, de olhos azuis. Respoindiam que não. Alguns que sim. Imagino. E mostravam outros modelos. Eu dizia que não. E eles continuavam feirando. Loiros. E feirando. Feirando frutas e verduras. E eu admirado de pessoas tão bonitas e feirando. E eu envergonhado da minha surpresa continuava olhando. E passando pelo Angar colorido de frutas e hortaliças que um dia foi Angar de Zeppelin.
    Não teve jeito. Me disse que eu voltasse mais tarde, no outro dia talvez. Imagino. Me disse em Letão.

    ResponderExcluir