(6 de junho de 2012)
Ao meu guarda-chuva da Família Addams in memorian
Eles
não assaltam bancos, não carregam armas, não se parecem com os maus senhores de
Copolla. Pelo contrário, fingem-se de normais, andando em meio à multidão diariamente.
Trabalham em academias, escritórios, colégios; usam roupas normais. Ninguém
desconfia deles.
Todavia,
eles estão entre nós. E, quando menos esperamos, roubam nosso guarda-chuva. É
simples: damos bobeira e deixamo-lo em cima do balcão, do sofá, no banheiro ou
num cantinho da parede. Aí é batata, quando voltamos, desapareceu.
Perguntamos
aos balconistas, que nos encaminham à moça da cantina, que, por sua vez, nos
aconselha a perguntar ao porteiro. Este dá aquele risinho e começa a lhe contar
histórias longas e assustadoras de roubos de guarda-chuva. Percebemos,
inclusive, que se faz mito esse sumiço. Alguns chegam a creditar o fato a
alienígenas, fantasmas, sacis...
O
ladrão, no entanto, é de carne e osso. Nos cumprimenta, oferece biscoito, segura
o elevador para nós. Seria um completo cavalheiro se não fosse o cruel fato de
ser um psicopata da chuva. É uma patologia. Nasce-se assim. Ladrão. Chego a
imaginar que é incontrolável, o sujeito sente calafrios ao ver o tal objeto.
Delira ao imaginá-lo em sua coleção.
Em
sua casa, deve haver um cômodo escondido lotado de guarda-chuvas de todas as
cores e modelos. Uma estante de livros deslocada nos levaria a tal local.
Porém, jamais o veremos. Os ladrões são maquiavelicamente estrategistas. Morrem
com o segredo e nunca, mas nunca se submetem a qualquer chuvisco de
fraqueza.